Eu cresci acostumada ao fato de que existem quatro estações ao longo de um ano. Embora, na minha realidade, houvesse apenas duas... e meia. Crescendo no Brasil o clima sempre foi quente de manhã e extremamente quente e chuvoso o resto do dia, um pouco frio de manhã e quente durante o dia, ou um frio de doer que faz você querer se esconder embaixo das cobertas e tomar um caldo. Era isso. Mudança de cenário? Nada muito perceptível. Em setembro, os ipês floresciam. Além disso, tudo verde e tropical, o ano todo, pelo que me lembro, pelo menos.
No entanto, por influência norte-americana, eu sabia, desde criança, que havia lugares onde as quatro estações eram claramente distinguíveis. Desenhos Disney e filmes da Sessão da Tarde me ensinaram que a primaveras eram sobre flores e tempo de plantar um jardim, e os verões eram sobre aproveitar o sol e brincar do lado de fora, embora eu tivesse acesso a ambos o ano todo. O outono era sobre folhas caindo lá fora (como diziam Sandy & Jr.), e o inverno era sobre neve, embora eu nunca tivesse experimentado nenhum dos dois na minha infância. Não foi até meus 20 anos que entendi como era viver em um lugar com quatro estações distintas. Já se passaram quase treze anos e... Acho que nunca vou me acostumar.
A melhor maneira que tenho pra descrever como é viver em um lugar com estações distintas (se é que se pode chamar Saskatchewan disso) é como ter um segundo ritmo circadiano, um ritmo circadiano estendido que organiza a vida das maneiras mais inconvenientes e, às vezes, fantásticas.
Vou explicar. Pense em acordar em um dia quente e ensolarado, é sábado, e você vai encontrar suas amigas lá fora para tomar uns drinks. Aquela energia — é a energia do verão. Exceto que este sábado dura três meses inteiros. Alguém morreu? Você tem que trabalhar e seu chefe é péssimo? Você teve uma discussão com alguém que ama? Não importa, é verão. Assim que começamos a ter dias consistentemente quentes e sol suficiente para cessar temporariamente nossa deficiência semi-permanente de vitamina D, eu sinto a energia do verão chegando e inundando meu corpo. E, não vou mentir, eu amo essa época do ano. E eu queria que ela durasse pra sempre. Mas, parte de mim ainda tem dificuldade de lidar com o quão preciosos e raros são os dias de verão aqui, o que é muito diferente to Brasil. Morando aqui, eu sempre me sinto esgotada no final do verão, sentindo que perdi tempo e espaço para introspecção, ao mesmo tempo em sentindo que poderia ter aproveitado melhor os dias mais quentes — um ato de equilíbrio impossível.
A primavera e outono são série de dias na expectativa do que está por vir. E invernos, ah invernos. Se o verão me dá energia, o inverno pesa — sorrir é mais difícil, sai do lugar é mais difícil, viver é mais difícil. Tudo exige um pouco mais de energia e esforço no inverno. E, enquanto encontrar felicidade no verão é fácil, encontrá-la no inverno é como procurar minhas chaves quando estou atrasada para sair de casa, uma luta.
As temperaturas extremas fazem tudo ficar difícil, mas o isolamento é o que mais me afeta. Os invernos no Brasil eram frios, especialmente sem aquecedores e casas com paredes com isolamento térmico, mas os invernos também eram cheios de festas com muita dança, comida boa e boas memórias.
Eu não estou voltando para o Brasil tão cedo, embora parte de mim deseje que isso aconteça algum dia. Mas, sinto falta da abundância de dias quentes, sem pressa, sempre sabendo que amanhã será outro dia de calor, e que se não fosse, o próximo seria. Por enquanto, tudo o que posso fazer é aguentar firme, a primavera está quase chegando. 🌼


O que assisti este mês
Minha obsessão por filmes diminuiu consideravelmente em fevereiro, e não tenho tanto para compartilhar quanto em janeiro. Mas vamos lá:
⭐️⭐️⭐️⭐️ Poor Things: Gostei muito deste filme e quero assistir de novo em algum momento. Embora ele seja uma visão masculina das experiências de mulheres brancas, ainda sim é um filme sobre as experiências feminias, algo ainda um raro. Enquanto eu assistia, eu não conseguia decidir se a atuação de Emma Stone era ótima ou terrível, só sei que me deixou bastante desconfortável.
⭐️⭐️⭐️ American Symphony: é um documentário da Netflix sobre um vencedor de vários Grammys e como ele navega na vida enquanto sua esposa passa por tratamento contra o câncer. A série foi um bom lembrete de que todo mundo passa por dificuldades sob a superfície, mesmo que as aparências ou as redes sociais digam o contrário.
⭐️⭐️⭐️ Naomi Osaka: é uma série de três partes sobre a mundialmente famosa jogadora de tênis japonesa. A série foi muito bem feita, ao ponto que eu não consegui assistir tudo de uma vez, porque precisava de pausas para sentir e processar o que Naomi estava passando. Osaka é tão real, e seus sentimentos são compreensíveis. Nem heroína nem vilã, ela está encontrando seu caminho.
Menção honrosa este mês para Love is Blind. A série está cada vez mais dando vibes de Jogos Vorazes, especialmente durante a reunion, adoro.
O que ouvi
⭐️⭐️⭐️ Corte de Espinhos e Rosas: Normalmente, não sou muito de fantasia, mas este audiobook me prendeu. As vibes de A Bela e a Fera eram próximas o suficiente do enredo original para me fazer continuar lendo, sabendo o que ia acontecer, enquanto a misteriosa praga me deixou intrigada por uma boa parte do livro. Eu não acho que teria sido capaz de manter minha atenção se tivesse lendo o livro, mas foi uma boa escolha pra um audiobook.




O que fiz
Fevereiro trouxe um pouco mais do mesmo, e não aconteceu muita coisa nova por aqui. Aqui estão os destaques deste mês:
O amor de Miguel por trens está mais forte do que nunca, embora Mickey Mouse e Sonic tenham avançado na lista de interesses.
Aproveitando de uma noite sozinha em casa, com um macarrão e um filme.
Quando o seu date está mais interessado em trens.
Meu amor pela bike está dando uma pausa, tenho curtido correr ultimamente.
As aulas de música brasileira ainda são um sucesso.
Caos antes da hora de dormir.





